O Amor Segundo Platão: Uma Perigosa Doença Mental?
Na visão de Platão, a realização do amor ideal envolve transcender a mera paixão física e ascender à contemplação da verdade.
O filósofo grego Platão, discípulo de Sócrates e professor de Aristóteles, é amplamente reconhecido por suas contribuições à filosofia em áreas que vão desde a política até a epistemologia. No entanto, Platão também deixou sua marca no estudo do amor e das emoções.
O Diálogo do Banquete de Platão
O diálogo do Banquete é uma série de discursos apresentados por diferentes personagens, cada um discutindo o significado e a natureza do amor, ou “Eros” em grego. No entanto, o personagem central do diálogo, Sócrates, conta a visão da sacerdotisa Diotima sobre o amor, que lança luz sobre a perspectiva “doentia” do amor de Platão.
Diotima argumenta que o amor é um desejo constante pelo que não se tem e, por sua natureza, é insaciável. O amante está sempre buscando algo que lhe falta, algo que é mais belo, mais perfeito. Esse desejo constante cria uma forma de agitação na alma, impedindo que o amante alcance a verdadeira sabedoria.
A Ideia da Ascese e Autocontrole
Platão, através das palavras de Diotima, sugere que o amor deve ser transcender suas formas inferiores, como o desejo físico, e alcançar uma forma superior de amor. O amor, nesse sentido, torna-se uma busca da beleza, da verdade e do bem. Esse processo é o que Platão chama de “ascese.”
Em essência, a ascese é uma prática de autocontrole, uma tentativa de domar os impulsos e desejos do corpo em busca de algo mais nobre e espiritual. Na visão de Platão, a realização do amor ideal envolve transcender a mera paixão física e ascender à contemplação da verdade.
O Paradoxo do Amor em Platão
O que torna a visão de Platão sobre o amor paradoxal é que ele o vê como uma doença mental, mas também como um caminho para a sabedoria. O desejo insaciável do amante, que o impede de alcançar a verdadeira sabedoria, é a “doença mental” associada ao amor. No entanto, a ascese, que visa elevar o amor a um nível superior, é a cura para essa doença.
Platão certamente tinha uma visão complexa do amor, que não se limita ao simples romantismo ou à paixão. Ele via o amor como uma força poderosa que, se não fosse direcionada adequadamente, poderia ser prejudicial. No entanto, Platão também acreditava que o amor, quando transcende a busca por prazeres físicos, pode ser uma fonte de crescimento espiritual e sabedoria.
Portanto, a visão de Platão sobre o amor é, em última análise, um convite à reflexão e ao autoconhecimento. Ela nos desafia a considerar não apenas o que amamos, mas por que amamos e como direcionamos esse amor em busca da verdade e do bem. É um lembrete de que, como todas as emoções humanas, o amor é uma força poderosa que pode moldar nossas vidas de maneiras complexas e profundas.