O perigo oculto dos vapes: estudo brasileiro revela alta exposição à nicotina
Pesquisa revela que usuários de cigarros eletrônicos têm níveis de nicotina equivalentes a 120 cigarros por dia, evidenciando graves riscos à saúde cardiovascular e respiratória.
Nos últimos anos, os cigarros eletrônicos, também conhecidos como vapes, têm ganhado popularidade, especialmente entre os jovens, com a promessa de serem uma alternativa “menos prejudicial” ao cigarro convencional. No entanto, um estudo recentemente divulgado pelo Instituto do Coração (Incor) em parceria com a Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo e a Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) trouxe à tona um alerta significativo sobre os perigos dessa prática. Os resultados revelaram que os usuários de vapes podem estar expostos a níveis de nicotina alarmantes, muito superiores aos que seriam esperados por aqueles que fumam cigarro convencional, e que isso pode representar sérios riscos à saúde cardiovascular e respiratória. O estudo sugere que, ao contrário do que muitos acreditam, o cigarro eletrônico pode não ser uma alternativa tão segura e pode até agravar problemas de saúde, como doenças cardíacas, arritmias e dificuldades respiratórias.
A pesquisa: metodologias e resultados impactantes
O estudo foi realizado em São Paulo e envolveu 417 participantes que utilizavam cigarros eletrônicos regularmente, sendo monitorados em ambientes públicos e de entretenimento. A principal metodologia adotada pelos pesquisadores foi a medição dos níveis de nicotina presentes na corrente sanguínea dos participantes, o que permitiu uma comparação direta com os níveis encontrados em fumantes de cigarros tradicionais. A pesquisa trouxe dados impressionantes, revelando que a exposição à nicotina nos usuários de vapes é muito mais intensa do que se pensava inicialmente.
Em um caso notável, um dos participantes, que usava cigarro eletrônico há apenas um ano, teve seu nível de nicotina medido em 2.400 nanogramas por mililitro de sangue (µg), um valor seis vezes mais alto do que o esperado em pessoas que fumam 20 cigarros convencionais por dia ao longo de mais de 20 anos. Esse dado é alarmante, pois indica que os vapes podem, em determinados casos, expor o usuário a doses de nicotina ainda mais altas do que as encontradas em fumantes crônicos. Esse nível excessivo de nicotina pode ter implicações graves para a saúde do sistema cardiovascular, já que a nicotina é uma substância que afeta diretamente o funcionamento do coração e dos vasos sanguíneos.
Além disso, o estudo revelou que os participantes que usavam cigarros eletrônicos regularmente apresentaram um aumento no risco de desenvolver arritmias cardíacas, infartos e outros problemas relacionados ao sistema cardiovascular. Isso ocorre porque a nicotina tem um efeito estimulante no sistema nervoso, alterando os batimentos cardíacos e aumentando a pressão arterial. O uso prolongado de nicotina pode levar a um desgaste significativo do sistema cardiovascular, criando um terreno fértil para o desenvolvimento de doenças crônicas, como hipertensão e insuficiência cardíaca.
A dependência e os riscos invisíveis dos vapes
Outro aspecto relevante da pesquisa foi a análise do vício causado pelos cigarros eletrônicos. Entre os participantes, 60% afirmaram já ter tentado parar de usar o cigarro eletrônico, mas sem sucesso. Esse dado é significativo, pois indica que o uso de vapes pode rapidamente levar à dependência de nicotina, que é a principal substância viciante tanto nos cigarros convencionais quanto nos eletrônicos.
Além disso, 60% dos participantes que usavam vapes nunca haviam fumado cigarros convencionais antes de começar a utilizar o cigarro eletrônico. Esse dado sugere que os vapes podem funcionar como uma “porta de entrada” para o vício em nicotina, especialmente entre os jovens. O fato de que o cigarro eletrônico pode induzir dependência rapidamente, sem que o usuário tenha tido contato prévio com o cigarro tradicional, demonstra o potencial viciante dos dispositivos e sua capacidade de atrair novos usuários.
A dependência de nicotina é um problema sério de saúde pública, e o fato de os vapes estarem se tornando tão populares, especialmente entre os jovens, pode ter implicações de longo prazo para a saúde de uma geração inteira. A dependência de nicotina não apenas afeta a saúde cardiovascular e respiratória, mas também pode levar a problemas neurológicos, como a diminuição da capacidade cognitiva e a maior suscetibilidade a transtornos mentais, como ansiedade e depressão.
Os efeitos respiratórios e as complicações a longo prazo
Além dos impactos cardiovasculares, o estudo também levantou preocupações sobre os efeitos respiratórios do uso prolongado de cigarros eletrônicos. A nicotina e outros produtos químicos presentes nos vapes podem ter um impacto negativo no sistema respiratório, prejudicando a função pulmonar e tornando os usuários mais vulneráveis a doenças respiratórias. A exposição crônica à nicotina pode alterar o funcionamento dos padrões respiratórios, diminuindo a capacidade do corpo de combater infecções e aumentando o risco de doenças como bronquite, pneumonia e até mesmo câncer de pulmão.
O uso de vapes também tem sido associado ao aumento do risco de doenças respiratórias oportunistas, como gripe e tuberculose. Isso ocorre porque a nicotina e outros compostos presentes nos líquidos dos vapes podem enfraquecer o sistema imunológico, tornando os usuários mais suscetíveis a infecções. A longo prazo, isso pode resultar em problemas respiratórios crônicos e uma piora geral na saúde do usuário.